quarta-feira, 5 de maio de 2010

Cena Fragmentada

-Vem Tucuru! Pega aquele timbú antes que escape!
Corri mais que pude, mas o bicho era rápido demais.
Eram mais de oito mirins correndo atrás de apenas um bicho.
Chacu puxou no rabo, e o bicho o acertou uma mordida em seu punho.
Sangrou tanto, mas Chacu era um mirim forte, agüentou a dor e continuou a perseguir o animal.
E num só movimento, peguei o bicho pela cabeça, e dei-lhe uma pancada.
Pronto estava ali nossa caça do dia. Era o quinto timbú que pegávamos, ainda havia mais três punarés e quatro tatus em nossas sacas. Nossas grandes bolsas de palhas.
Estávamos pronto para voltar à tribo. E meio ao caminho sentimos uma brisa, nos envolver, de repente ficou frio, e logo passou uma ventania forte entre os mirins. As árvores balançavam sem parar, batendo uns galhos nos outros. As aves voavam mais rápidas, as corujas passaram a grunhir.
Todos os mirins resolveram rapidamente voltar para as Ocas.
Estava escurecendo, e apesar de corajosos, alguns já estavam com medo que as maldições da floresta que percorriam aquelas matas, viessem nos açoitar.
Eu não! Não estava com medo. Sempre fui um mirim corajoso, num temo a nada, nem mesmo essas maldições que viviam por aqui. 

Quando chegamos, já estavam todo sem volta de uma fogueira á nossa espera.
Pajé já imaginava que alguém chegaria machucado, sempre que saíamos á caça alguém voltava machucado. Pajé dizia que isso é o jeito da natureza descontar sua fúria, por tirar animais de suas matas. Por mais que fossem para nossa sobrevivência.
Então tratou logo de cobrir o punho de Chacu com suas folhas secas milagrosas.
As nanjas preparavam a refeição, então sentamos todos ao redor da fogueira para comermos todos juntos, como de costume.
Havia terminado mais um dia do meu povo. Aquilo era a minha vida.


 

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