quinta-feira, 6 de maio de 2010

Cena Fragmentada


Ela pousava à beirada do lago Chu, estava imóvel.
Percebi que estava com uma tala de folhas secas em seu ferimento na perna. Fui aproximar, para clamar perdão. Estava arrependido, sentia-me uma angústia penetrar.

Não esperava que aquilo acontecesse.
Fiz um barulho ao tocar em uma árvore.
Ela assustou-se, e num instante, levantou-se e pulou sobre o barranco.
Percebo que carrega algo em uma de suas mãos.
Não deu para ver bem, mas tinha quase certeza que era a segunda Mística.
Dessa vez eu não podia deixá-la levar.
Era a garantia do meu ritual de acasalamento.
Corri atrás.
Eu a avistava de longe, parecia que ela tinha dificuldades para andar, mas mesmo assim ainda continuava rápida.
Consegui alcançá-la, puxei a mística com voracidade de suas mãos.
Ela avançou em mim como uma onça, parecia sentir ódio.
Usou de toda a sua força.
Eu não podia machucá-la, era uma nanja, e eu era um pacu. Não tinha o direito de ferí-la.
Ela apenas gritava e chorava, parecia mesmo precisar da rosa.
- Por que está fazendo isso? Perguntei.
Ela não respondia nada, apenas tentava arrancar de minhas mãos a mística, com cuidado para que não desfalecesse.
De repente ela solta um leve suspiro:
- Por favor! Não disse mais nada. Calou-se
Realmente ela estava precisando daquela rosa, para agir daquela forma.
Seu motivo deveria ser mais forte que o meu.
Em um simples movimento inconsciente soltei a única Mística que restara.Não valeria a pena continuar lutando contra uma nanja, para conseguir uma flor, que simboliza um ritual que nem sabia se estava preparado.
Ela não entendeu nada, quando a entreguei a Mística.
Apenas pegou a flor. E saiu em disparada.
Olhava para trás assustada, talvez achasse que eu a perseguisse.
Mas eu já estava decidido. Iria agüentar as conseqüências. Voltaria para a tribo sem a flor.
Apesar da decepção que faria Chamã passar, contaria que meu desejo era fazer o ritual com alguém que eu escolhesse. Mesmo que ele não entendesse.

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